O que te pega? Comida? Viagens? Amizades? Diversão? Hein, o que te pega? Aquela COISA na sua vida que te dá um prazer interno e subconsciente, e que às vezes te move sem você ao menos perceber que está sendo guiado por ela. Seja por dopamina ou por serotonina, tem vício que a gente só gostaria de poder sustentar por toda a vida, 24h por dia.
Assim: o que me pega real é a beleza, pura e simplesmente. Não que estejam nela os valores nutricionais daquilo que mais importa na vida, mas é como o sal: sem ele, a comida fica sem graça e você até perde a fome. Mas esquece a beleza visual (e padrão) dos corpos e rostos, que passou a ser o único sinônimo da palavra beleza; quero falar, na verdade, sobre tudo que é belo. Nada de anjos em quadro renascentista nem músicas calmas, suaves — tem horas que é só sobre a vida sendo contemplada mesmo, por mais suja e visceral que possa vir a ser.
Tava aqui esses dias pensando com meus botões sobre como eu gosto de observar a beleza. Já trabalhei por anos com fotografia (de ensaios e eventos) e hoje é um hobby que me faz exercitar essa observação constante. Gosto de admirar lugares, perceber pessoas e sentir experiências que me deem essa sensação de puta que pariu, como tudo isso é BONITO. Mas calma lá!, que tampouco tem a ver com o paraíso de folheto dos testemunhas de Jeová.
É mais sobre apreciar e deslumbrar-se com a vida humana ao redor (e de todos os seres) do que sobre distinguir o belo do feio. É a contemplação dos detalhes e dos pequenos prazeres.
Em outro momento, pensando mais ainda com meus botões, percebi que observar muito a beleza me leva naturalmente a querer também construí-la. Através do design, das receitas veganas que gosto de preparar, da escrita (ficcional ou não) e das ideias em geral, o primeiro critério que me dá um gás pra levantar a bunda do sofá e botar a mão na massa é imaginar algo que não existe, que deveria existir, que eu mesmo posso fazer existir e que seja muito bonito. Um design agradável, uma comida que você primeiro coma com os olhos, um texto fluido como uma conversa e uma ideia que seja irreverente e cause êxtase por seu simples surgimento num momento eureca!.
Quem é da criação tá sempre falando disso com outros criadores: o que te inspira? Você tem ideia pra uma história primeiro através do cenário, dos personagens ou do roteiro? Ou algo do tipo: você pensa num prato pela combinação de sabores, pela textura ou pela cultura de onde ele veio? Enfim, mais ou menos por aí.
Eu, particularmente, começo mesmo pela estética (não-literal nem visual). Pela estética da agradabilidade, melhor dizendo. É construir a beleza como fundamento sinestésico de todas as camadas subsequentes. Através dela, todo o resto se encaixa e faz sentido. Vou sentindo contentamento enquanto o que se haverá ainda se concebe; vou tendo prazer em botar no mundo uma mistura (des)equilibrada de caos com ordem, nojo com pureza, temor com amparo. Palavrão com poesia.
Pois, hão de concordar comigo, que se o yin-yang ☯︎ é perfeito, não é pelo seu lado branco com núcleo preto sequer pelo oposto. É pelo todo. É porque o que é belo não é listado, não está num livro de regras, muito menos em convenções sociais que vão se moldando com o passar dos séculos (ainda que a gente queira acreditar nisso e discutir dessa forma limitada). É porque o todo só se percebe durante a concentração do vulgar e do mundano, para que faça sentido amplo.
Para se observar a beleza de tudo que existe, vivo ou morto, imperfeito e natural. Poético.
Para construir a beleza daquilo que se imagina, incompreensível ou benquisto. Misterioso, desconhecido. Poético.
Para então deleitar-se, por dentro, e dar vida à vida, por fora.
É assim que se enfeita os sorrisos e que se dramatiza as lágrimas.
Com uma beleza que só você pode determinar se é de fato tão bela assim. Com poesia.
Gostou? Bastante ou mais ou menos? Comenta aí embaixo faz favor 🙏 Vai levar 2 minutos e vai me ajudar muito e te atrapalhar pouco :) Obrigado!
maravilhosooooooooo
Adorei, Thiago! Excelente texto, de uma sensibilidade única, como as belezas cotidianas que pedem este olhar!
Obrigado mais uma vez, Nilce! Espero que meus textos sempre te causem essa impressão :))
Amei, Thiago! A beleza me encanta também e acho que entendi exatamente o que você quis dizer. A beleza está mesmo nos aspectos que a gente não gosta de olhar. Penso, por exemplo, no sofrimento, ninguém gosta de senti-lo, mas ele é poético, não é? Além do mais, já pensou no quanto é lindo pensar que a gente aprende a se resolver por dentro nos períodos de sofrimento?
Parabéns pelo texto!