Olha eu aqui, de novo. Pela milésima vez, escrevendo o primeiro post de um blog — não sei se isso me deixa animado ou desolado, mas sigo insistindo. Quem me conhece, sabe que meu primeiro blog (de uns quinze até hoje) foi aos 13 anos, num longínquo ano de 2004 em que o discador era do iBest e o navegador era o Internet Explorer 6. Sempre gosto de lembrar datas e a idade que tinha em épocas marcantes, pois afinal sou um nostálgico nato (e serei um velho de histórias longas).

Já esse site homônimo, que você está acessando agora, foi criado em 2020 para que eu republicasse aqui meus ambiciosos e sonhadores artigos do LinkedIn. Mas resumindo bem resumido: sinto que acabei perdendo minha essência com os artigos do LinkedIn; o LinkedIn se perdeu dentro do LinkedIn; e eu cansei de pensar muito pra escrever. Gosto assim, de ver as letrinhas surgindo na tela de acordo com o que vai sendo cantado dentro da minha cabeça. Parecido com Beethoven, aquele mesmo (mas não o cachorro), que dizia que um espírito lhe soprava as sinfonias e ele apenas as transcrevia (a diferença é que ele foi o Beethoven e eu sou apenas eu).

Verdade seja dita, sou um palestrinha compulsivo. Adoro falar, comunicar, escrever, encher linguiça. Meu falecido pai dizia que eu falava mais que o homem da cobra (com três aninhos já não calava a boca, imagina hoje!). Mas a questão é que se eu não colocar as ideias pra fora, eu explodo por dentro, fico triste e amargurado. Compartilhando com o mundo, continuo da mesma forma, mas pelo menos divido a melancolia com mais gente e não fico triste sozinho.

No momento, estou terminando o meu segundo livro de poesias (o primeiro, “Parte de mim parte daqui“, foi lançado em maio do ano passado). Também tenho uma newsletter que publico quando dá na telha, mas decidi reservá-la para ideias mais subjetivas e usar esse espaço para uma linguagem de diário. A propósito, a inspiração para esse formato de compartilhar minha vida e a dança dos dias veio da newsletter “Passageiro” do Matheus de Souza, aquele mesmo, o nômade digital. O cara é um gênio em contar histórias, aí eu fiquei com inveja.

Uma coisa que percebi é que, ao longo de quase 20 anos blogando, nunca escrevi nesse formato. Sempre tive ideias grandiosas e temáticas — blogs de anime, depois de resenha de álbuns, nomadismo, vida no exterior etc etc —, mas nunca o dia-a-dia em forma de diário digital (que foi a proposta inicial dos blogs lá em 1900 e blau). Talvez tivesse desinteresse em descrever uma rotina que não agregasse em muita coisa, sabe? Mas assim como cansei de pensar muito pra escrever, também cansei de querer agregar o tempo todo. Se você ler isso aqui e sentir que valeu a pena procrastinar seu trabalho, eu já fico bem feliz na verdade.

Como esse é um post introdutório (e sou especialista em posts que iniciam, mas ruim em dar continuidade), vou parando por aqui. Tenho muito a dizer daqui pra frente, porque minha mente é um turbilhão. Acho (acho, viu?) que quero falar sobre cozinhar, morar na praia, querer sumir periodicamente da existência em sociedade, sobre depressão e ansiedade, umas pinceladas sobre agir politicamente no mundo e, sem dúvida alguma, sobre músicas tristes e filmes ruins.

Mas isso aqui só vai melhorar se você comentar aí embaixo. Porque aí, como um bom designer, eu posso ir iterando e recalculando a rota dos meus pensamentos. Cê me ajuda?

Até mais e uma boa semana.

Próxima Publicação
Me conectando com o mundo e com as pessoas através da escrita. Às vezes perdido, mas nunca deixando de procurar meu próprio caminho. Me acompanhe no Instagram.

Esse post tem 12 comentários

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  1. Muito bom te ver de volta! Pode seguir em qualquer formato, todos os seus escritos são bons, apenas siga escrevendo… e desejo apenas que siga mesmo que ninguém comente ou curta, siga escrevendo, a bem aventurança será consequência.

    1. Nilce, você é uma das pessoas que mais me incentivam e apoiam, então só tenho a agradecer você por isso! Cada vez mais eu vejo que não é sobre a plataforma ou o meio que escrevo, mas sobre as ideias que tenho pra compartilhar. Então pode ter certeza que nunca vou parar, porque escrever é o que me mantém vivo. Obrigado mais uma vez <3

    1. Ahhhh…. olha ele aqui de novo!

      Estamos sintonizados nessa vibe de cansar de pensar para escrever, ter estratégia e tal.
      Escrever para mim é tão maior que tudo isso!
      Transcende o marketing, a venda, a necessidade de “aparecer para ser visto” (ugh!)

      O digital só serve para escalar aquilo que a gente já fazia no anonimato, né?

      Siga assim, querido, ouvindo o que as vozes da sua cabeça cantam e nos brindando com pérolas como essa!

      Amo tua escrita! ❤️

      1. “Escrever para mim é tão maior que tudo isso!”: sim! Eu quero voltar a ter tesão pela escrita como eu fazia quando comecei. Chega de pensar em dinheiro, crescimento, estratégia, eu quero rir, me divertir, deixar um legado pelas palavras. Tenho muito a dizer, e a maior parte ficou por anos escondida. Obrigado pelo apoio que você sempre me deu, Mari, é recíproco o gosto que tenho pela sua escrita!

  2. Trabalho procrastinado com sucesso! ☺ Como designer [se é que posso me chamar assim] achei o layout do blog muito bonito.

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O.

Os fatos aleatórios das últimas semanas que tiraram meu sono.

Pernilongos malditos.

Pernilongos malditos por toda a parte zumbindo no meu ouvido, zanzando pela casa abafada, picando a minha pele com seus narizes gigantes e se deliciando com o almoço farto do meu sangue gelado — não há repelente que dê conta. Acho maluquice pensar que a espécie humana, que descobriu outros planetas, inventou o avião e o microondas, é a mesma que tem vontade de declarar guerra contra insetos insuportáveis. Como eu particularmente não sou capaz de encontrar novos planetas nem inventar aviões e forno microondas, então sobrou pra vocês, pernilongos. Eu vos declaro guerra. Ou eu acabo com vocês ou começarei a dar cabeçadas na parede.


Sonambulismo que me tira o sono. Ou não.

Sonâmbulo eu sempre fui, mas faz pouco tempo que sou sonâmbulo morando sozinho. Já acordei destrancando a porta de casa, descendo escada ou apenas sentado na cama como se fosse um zumbi que acabou de passar pela transformação pós-morte. Às vezes vejo roupas pelo quarto e acho que são pessoas, fico fitando camisas por muitos minutos tentando imaginar se estou vendo fantasmas, pessoas vivas ou se isso é apenas sintoma inicial de uma iminente esquizofrenia. Um dia descubro e volto pra contar.


A inteligência artificial me fascina e me deprime na mesma intensidade.

Pensar se a I.A. vai acabar com todos os empregos, dominar o mundo, fazer a vida humana perder o sentido e ainda por cima te fazer se sentir um completo inútil e imbecil tem tomado boas horas do meu dia. Ao mesmo tempo, não quero ficar discutindo sobre isso com outras pessoas sem chegar a conclusão nenhuma. Quando quero conversar, eu falo com… Bom, eu falo com o ChatGPT mesmo.


Envelhecer é foda.

Não ligo de ficar velho. Mas ligo de acordar meio surdo do ouvido esquerdo, do nervo ciático doer só pra me lembrar que ele existe, das ressacas do dia seguinte passarem a ser como uma paulada dentro da cabeça, de ter crises de ansiedade por imaginar um futuro próximo inabitável e de estar mais ranzinza a cada novo velho dia. Mas são só detalhes, pois, afinal, não ligo de ficar velho.


Desperdiçar o tempo é como areia caindo entre os dedos.

Quando tô há horas no celular rolando vídeos de gatinhos, de políticos estúpidos e de estadunidenses fazendo nojeira com comida ultraprocessada, bate um peso na consciência e juro pra mim mesmo que vou voltar a ler mais, a escrever meus livros, procrastinar menos, viver uma vida mais significativa e por aí vai. Mas, pasme, isso tem o mesmo peso de uma promessa de academia na próxima segunda-feira: completamente nulo. Pois bem, é isso, galera, vamos morrer desperdiçando a maior parte da vida discutindo com desconhecidos na internet e ficando com a ponta do dedão calejada. Conformemo-nos.


Pernilongos malditos, reprise.

Matei mais um detestável, cruel, nocivo, execrável mosquito do inferno enquanto escrevo, deitado na rede, esses devaneios efêmeros e pessimistas. A guerra nunca acabará (e eles estão ganhando).


Os adendos que ninguém perguntou.

  • Estou namorando. Se apaixonar é uma doença, (não) recomendo.
  • Todo dia de calor de verão em pleno outono me causa um leve desespero ambiental.
  • Tenho feito pratos veganos maravilhosos e estou muito orgulhoso disso.
  • Morar na praia foi a melhor decisão que tomei na vida.
  • Faça manutenção na casa, nas coisas, na própria saúde. Antes que tudo quebre ao mesmo tempo e você queira chorar em posição fetal.
O.

Os sonhos, os medos.

Certa vez, ano passado, arrisquei comer cogumelos alucinógenos pela primeira (porém não última) vez e senti meu ego derreter por completo — isso mesmo, essas coisas de jovem místico. Nem vou entrar no mérito da viagem astral, espiritual, psicodélica, colorida, imagética e sonora que tive (isso eu deixo pra mesa de bar pra quem quiser saber). O que importa dessa experiência insana foi que, uma vez que o ego havia derretido abstrata e filosoficamente, o que sobrou por baixo de um véu ególatra foi justamente o título desse texto: os sonhos, os medos.

Quando a camada da superfície se dissolve, é como estar sobre um palco de teatro e repentinamente deixar de atuar, permitindo que o público veja o ator ao invés do personagem; é o palhaço que acidentalmente deixa o nariz cair no chão e se sente artisticamente pelado. Afinal, se as relações egocêntricas são puro teatro e figurino, quando tudo isso cai por terra, o que raios vai sobrar?

Daria uma música do Gabriel, o Pensador essas discussões morais sobre “quem lhe resta de si próprio se lhe é tirado cargo, conquistas, roupas, dinheiro, status social, aparência e hierarquias?” Bom, tenho certeza que sobra muita coisa, mas é que você não tá prestando atenção (nem eu, nem ninguém). O que me parece escapar por debaixo do véu, cada vez mais como uma criança que se esconde atrás da cortina com os pés à mostra, são os sonhos — que te fazem ansiar — e também os medos — que, ora!, também te fazem ansiar (e você anseia pra caralho que eu sei).

E, se somos todos espelhos de nós mesmos e reflexos de todos os outros, é fácil concluir que todo mundo e qualquer um é sonho na coxia, medo no camarim — no palco tá todo mundo fingindo ser forte, já que é o “melhor” jeito de aguentar a pressão que é ainda estar vivo ao acordar e ter que levantar da cama continuamente. Ninguém tá puro, ninguém tá tão certo do que diz, MUITO MENOS certo de quem pensa ser. O outro, perante o outro outro que é você mesmo, no caso, não é o que o personagem dele lhe diz ou o personagem que você acha que a ele lhe cabe; o outro é o pé da criança atrás da cortina, morrendo de ansiedade de ser descoberto e morrendo de felicidade ao ser descoberto.

Talvez uma evolução das relações que aqui proponho seja pararmos de ler os rótulos e passar a perguntar os processos de cultivo do que é vivo. O que move o outro, o que o fez chegar até ali? O que almeja e tem medo de não dar certo?, o que receia e tem receio de compartilhar em público? Qual é o fantasma embaixo da cama dessa criança que paga contas?

O ego fica muito braboso quando a gente dá menos bola pra ele, sem focar nas pompas, intrigas, críticas e venerações à carcaça humana. Ele é escanteado quando a gente se preocupa francamente com a camada anterior, a ponto de desatar os nós, desinflamar e, por que não, anti-inflamar as faíscas que insistimos em alimentar.

Os medos que me tiram o sono me aproximam de quem se importa em escutá-los de verdade, os sonhos que projeto (e a maioria dá errado, normal) e que compartilho bobo me humanizam em carne e espírito desejante, que sofre fora dos recortes digitais, que nem sempre tem vitórias a mostrar, que às vezes é só o olhar desamparado de ter falhado e caído de um cavalo de cinco metros de altura, que às vezes só quer o colo da mãe e assistir um desenho velho.

Os cogumelos, coisa de adulto, fazem você ficar com os pés aparentes atrás da cortina, coisa de criança. O ego, que era pra ser coisa de adulto, é coisa de criança; os sonhos e os medos, por sua vez, parecem história de ninar, ainda que sejam, entre as adultezas da vida, as fragilidades mais vulneráveis que o palco do horário nobre insiste em esconder.